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Mulheres Fortes

Certo dia, uma pessoa me marcou em uma publicação que dizia: coisas que mulheres fortes nunca fazem. E ainda escreveu "muito eu!". Abri o link para ler já com um pé atrás e o outro mais atrás ainda. Dentro do site, tinham frases de comando que diziam que “mulheres fortes não ficam em silêncio: mulheres fortes sempre tem opinião”, "não se desculpam por cada pequena coisa" e “elas não colocam outras mulheres bem-sucedidas para baixo”. Parei para pensar por alguns minutos. Segundo esse site, talvez, eu não seja uma mulher forte. Não tenho opinião para tudo. Imagina que sufoco, que tédio, ter opinião formada sobre tudo, nunca achar nenhum tema sobre o qual nunca tinha pensado antes. Que maçante não mudar de opinião. Eu, por sorte, não tenho opinião formada sobre muitas coisas e estou sempre a disposição de repensar as minhas. E sobre ficar em silêncio, às vezes é mais importante que falar. Qual o problema de ficar em silêncio? Qual o medo de não ter opinião? Além dis

A vida passa

A vida passa. Acho que a gente vira adulto quando começa a entender que a vida passa. A vida passa pra qualquer um. A vida passa da noite pro dia. Ela pode mudar porque alguém fez uma besteira muito grande, o que o faz perder tudo que conquistou e deixar até mesmo a ideia de recomeço mais longe do possível. Isso da noite pro dia. Acabou de acontecer tão perto de mim, e tão mais perto de amigas minhas. É tão fácil deixar a vida passar. Custa tão pouco mas o custo é tão grande. A vida passa enquanto a gente não faz o que quer fazer. A vida passa enquanto fazemos o que os outros querem que a gente faça. A vida passa enquanto não trabalhamos para realizar nossos sonhos. A vida passa enquanto vivemos para mostrar para o outros o que somos, ao inveś de sermos para nós mesmos. A vida passa enquanto gastamos horas e horas pensando no que fazer, ao invés de fazer. A vida passa enquanto não curtimos amigos e a família do jeito que deveríamos ter curtido. Minha bisavó morreu na madrugada de

Supermercado

Muitos reclamam do trânsito. Que a Linha Vermelha isso, que a Paulista aquilo, muitos carros na rua, pouco semáforo. Nunca vi ninguém reclamar do real problema de trânsito do Brasil: o trânsito do supermercado. O trânsito do supermercado é como o trânsito da Índia. Não há sinalização, respeito às leis de trânsito ou faixas específicas. Todas as faixas são de mão dupla, as pessoas param sem ligar o pisca alerta e viram sem dar seta. Sem contar que os carrinhos se batem o tempo inteiro e ainda atropelam muitos pedestres que estão apenas caminhando - também em qualquer lugar, pois não há faixa de pedestre. Eu não dirijo, mas acredito que quem é capaz de dirigir um carrinho de supermercado, e sair ileso, é capaz de dirigir qualquer coisa. Pelo menos uma vez por mês somos obrigados a ir neste limbo de trânsito confuso, arriscando nossas vidas, com o pensamento simplório e enganoso de que conseguiremos fazer compras que durarão o mês inteiro, que compraremos apenas o necessário e que ser

Terremoto

Na minha última noite no Chile algo interrompeu meus pensamentos, meio sonhos, sobre voltar para casa: um terremoto. Tudo bem, não foi bem um terremoto como vimos em filmes, mas tudo começou a tremer. Primeiro duvidei se realmente aquilo existia pois só tinha visto na tv, "papo da mídia, não é isso", pensei. Até que depois, quando o chão começou a tremer mais forte concluí: é terremoto mesmo. Existe. O meu - se estou fazendo um texto em homenagem acho que posso ter essa intimidade e chamar de meu - durou cerca de três segundos e esses três segundos passaram por mim da seguinte forma:  primeiro "ué", segundo "menina, não é que é terremoto mesmo?", E terceiro, pânico. Mas o pânico chegou inversamente proporcional ao tremor. Ainda bem. Quando ele se foi eu continuei tremendo. Talvez de medo. Talvez de frio. As chances do tremor ser um resquício do terremoto eram ínfimas. E depois não consegui mais dormir. Mas não houve mais nenhum terremoto. Ou se

Caminho

O sol brilhava menos do que no dia anterior quando eu botei meu uniforme de trabalho. Caminhei até o metrô pensando que o dia seria como qualquer outro. Chegando no trabalho, fui até a minha posição e lá fiquei, contando até os segundos para ir embora, quando uma menina se aproxima, confusa. -  Oi, Boa noite. O senhor sabe me dizer onde fica o Clube do Flamengo? Respondi, ela agradeceu e depois seguiu o caminho que eu indiquei, sorrindo. E o dia continuou como outro qualquer, apesar dela. No dia seguinte a mesma coisa. Todo uniformizado, fui ao trabalho de metrô e novamente surgiu a menina com a mesma pergunta. Não era possível. Eu havia explicado o caminho no dia anterior e ela tinha o feito como orientei. Sorri. Essa menina queria alguma coisa comigo. Respondi ainda educado, porém com um leve charme que minha mãe sempre disse que eu tenho e a menina ainda nada: agradeceu e seguiu o caminho que eu indiquei. Mais um dia amanheceu e lá fui eu: uniforme, metrô, trabalho

Janela

Não importa o quanto eu tente fazer você se abrir, você não quer abrir, continua preso por uma fechadura que insiste que eu não entenda qual é a mágica que o faça destravar. E eu tento. Eu puxo, empurro, penso em usar uma saída de emergência, suo com o calor e o sufoco que fico comigo mesma por não conseguir abrir você. E você nada. Não deixa eu ver um milímetro do que tem do seu outro lado. De sentir uma mínima parte do que tem do seu outro lado. Eu escuto as pessoas reclamarem "não quer se abrir", e também elas desistem de entender por que você quer ficar assim. Mas eu continuo tentando e me cansando e cada vez mais eu vejo que faço um trabalho sozinha enquanto você também deveria estar ajudando. E vou ficando cada vez mais sem propósito para continuar nessa tarefa árdua de tentar te abrir. A verdade é que você só abre se eu fizer muita força, mas eu não quero fazer força, sabe? Talvez eu nem tenha essa força toda para fazer. Eu queria que fosse fácil te abrir. Qu

Oscar Maldito

Eu ouvi dizer que o ano começou a dar errado quando o Leonardo Di Caprio ganhou o Oscar. Que de algum modo isso abalou as leis do universo e então é ele que devemos culpar por tudo isso que aconteceu esse ano. E que ano. Baita ano. Ufa. Acho que Leonardo não teve culpa, talvez os culpados sejam as pessoas que escolheram que ele é que ganharia o Oscar. Talvez o Oscar deveria ter sido mais uma vez do Eddie Redmayne, que fez o ano de 2015 ser excelente. Mas que esse ano foi um ano ao menos esquisito, isso ele foi. A numerologia já tinha avisado que 2016 era o ano do fim. Realmente foi o fim de muitas coisas. Casais inseparáveis terminaram, pessoas extraordinárias e que não deveriam nos deixar nos deixaram e fazem uma falta danada e fica um sentimento infindável de saudade. Mas foi também um ano de fim para as minhas séries do netflix e livros que tinham lugar cativo na estante. 2016 foi politicamente amedrontado: Temer, Crivella, Trump. Socorro. E sabe lá o que ainda temos por vi